É verdade que todo mundo aprecia um pequeno amor, mesmo que não seja tão bom assim, e que obviamente vai durar menos que o dia que a sua mãe lhe deixou sozinho em casa pela primeira vez.
É claro que de ponta a ponta, o lápis acaba, e essa coisa toda vira só mais um detalhe daquilo que você pensou quando estava caminhando. E então é tudo igual: amor, pastel e beliche. O cheiro e os nomes são um pouco distantes, do que antes pra mim era quase como o especial de natal do fim do ano, e agora eu nem assisto um pingo de televisão. Parece mesmo que quanto mais a gente envelhece, mais essas coisas se banalizam, e ninguém mais faz escândalo ou dá risadinhas quando alguém se beija ou chora de ciúmes.
Os adultos se casam como se estivessem cumprindo alguma coisa que estava marcada desde os cinco anos, quando eles entenderam a foto de noiva da mãe, a cara feia do pai olhando para as contas do fim do mês.
Eu podia passar horas olhando para o teto, procurando uma teia de aranha, pensando em nada. Em como eu tinha nascido e como era incrível que meu coração batesse sozinho. Genial. E então os dias passam em telas de computador, compras, e glacê, a doce cobertura da vida dos outros (doce, por mais que o bolo esteja com um gosto horrível e você comeu discretamente a cobertura e deixou o resto no prato).
Antes de tudo, as férias eram só dias de cafés da manhã maiores, e pular corda até enjoar e fazer uma poção mágica de água e corante, para sair do tédio.
Com doze anos você já o ser humano mais aflito dos últimos tempos, que acha que logo que elas começam já estão acabando, que você não vai encontrar o amor da sua vida molhado de sal, nos 40 graus do verão, como se não houvesse mais ninguém interessante do que o grande babaca que você representa tão bem, mas no fundo não é (tanto assim).
Talvez pelo mesmo motivo que você se acostuma a andar rápido de cavalo, e fica se esbaldando sozinho, no jeito como você acha que anda bem, ninguém nunca vai encontrar o amor como um velho pesadelo, talvez uma meia gasta, que você tem pena de dar, ou jogar fora.