Juventude corrompida




Não que isso mude alguma coisa, mas para quem ouvia falar dela, esse pequeno detalhe só tornava sua figura mais sórdida e anormal, mas ela não dava tanta importância. Namorava. Namorava meninos... mas principalmente meninas. Tinha amigos estranhos e idéias tão loucas quanto estes, e quando se encontravam, fosse em bares ou em casa, a noite só acabava depois de três ou quatro dias. Imaginar a vida como uma rave constante se tornava difícil, porque quase sempre sua vida era uma rave, e ela nem se dava conta. Sonhos neon, sonhos de aurora. Aurora boreal. Menina do azul, do mar de ácool, florestas de ervas perfumadas, e talvez venenosas.
Seus delírios de acordar e cheirar as flores do seu quintal, com um aroma de loucura e abismo.
Fechava os olhos no infinito de cada beijo, abria apenas para ver outros olhos fechados, e assim se apaixonava profunda, imersamente por figuras extremamente opostas, alheias e acima de tudo, peculiares. O professor, o vizinho, o guitarrista de uma banda qualquer, uma amiga distante, o homem que patinava no gelo, e até desconhecidos, ou aqueles que não sabiam sequer da sua existência. O fato, é que realmente ela sentia gosto por isso. A sensação de "não existir" para alguém, sendo que este alguém existia tanto dentro dela. Paixões tão platônicas quanto ela era alucinada, distante de tudo e de quase todos.
Falavam sim, às vezes muito mal. O máximo que ela podia pensar era "danem-se", e acreditem quando eu digo que apesar de tudo, ela era sensível, e gostava de se divertir, e flutuar em chão sólido com certa embreaguês, por prazer, e para deixar o mundo mais alegre, dentro dela mesma.


Ninguém muda completamente, apesar dos anos que se passam, e do mundo que envelhece e traz com sua velhice, a velhice daqueles que antes eram jovens, e uma outra juventude com costumes e roupas estranhas para os antigos novos...


Agora ela está na praia, num maiô vinho, acabou de fumar algo que todos pensam ser um cigarro. Afinal, o que faria uma senhora de 73 anos com maconha ? E enquanto aprecia sua droga, com uma amiga de longo prazo, observa um grupo de amigos com seus 17 anos, bebendo vodka e chamando atenção com suas risadas, comenta ironicamente e pensa se é algo de sangue "essa juventude corrompida..."

Posted by Menina Radiguet Drubi | às 7/19/2010 09:30:00 PM

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