Carneiro





Uma menina muito pequena estava acordada numa cama muito grande, em alguma hora da madrugada. Ela bebia muitas xícaras de leite morno e afundava em todos os travesseiros que tinha. Tudo que ela queria era um punhado ou um pacotinho de sono, que fizesse ela acordar com mais sono no outro dia, para tomar café com cara de sono e com voz de sono. Ela lia livros de todos os tamanhos, com letras de todas as cores, e mesmo assim, continuava acordada. Não gostava de contar carneirinhos, pois ela não sabia qual número vinha depois do 64 e tinha pena dos carneiros que pulavam sem parar, uma vez até, pediu para um ler uma história para ela. Então ela fechou os olhos, sem apertar tanto, e sonhou com um campo de flores, e a canção de ninar: quase dormiu.

Posted by Menina Radiguet Drubi | às 10/31/2010 01:15:00 AM | 1 comentários

Bombas

Devo no mínimo dizer que estas coisas estavam atrasadas e impacientes para serem escritas. Quando se conta, às vezes parece patético, as pessoas riem, mas de perto é um pouco mais barulhento, digamos assim. Não quero ter certeza nem lembrar da data exatamente, mas acho que já faz um ano que ouvi pela primeira vez os gritos mais gentis de uma guitarra, acompanhados por letras duvidosas e alguns olhares melodiosos.


Até hoje é difícil evitar pensar em outras coisas, olhar para outro lado, o máximo é sempre tocar o copo molhado com os dedos, ou fingir beber a coca.


Os encontros costumavam ser mais constantes, era o tempo suficiente para eu não conseguir esquecer de nada.Nada.


E aos poucos aqueles ruídos foram se afastando cada vez mais, até eu ver a imagem muda, só suas caras, e seus dedos longos. Mas eu varria os rostos e os sons, e comecei até a ver coisas, então eu caí.Caí depois de ver mil cópias de uma mesma canção doce, até tentei tocá-la, mas ela sangrou dentro de mim, até o mundo desaparecer, sair voando, enquanto eu procurava pelo mundo, porque eu tinha esquecido que você está lá dentro, e não aqui.


Então eu levantei, e tinha vinte e um anos, já era alguma coisa, apesar de ser apenas uma noite antes da vidinha que voltaria em breve...


Eu não estava me importando muito, na realidade. Ainda era meia noite, e você estava brindando ao uísque, comigo e mais tantas pessoas, mas eu sorri e olhei para o palco, e manchei o copo com batom vermelho. Depois de algumas músicas, algumas doses, e devaneios, depois de tanto tempo olhando fixamente para um mesmo ponto, eu caí. De novo. Mas o chão não estava lá, pensei seriamente na hipótese de ser só um sonho que eu iria esquecer depois, mas eram dois braços, e eu pude sentir pela primeira vez, os dedos longos que antes só apareciam junto às cordas vibrantes. Sua voz estava mais alta que o resto, e mais alta do que as outras vezes que eu já ouvira, nos microfones e nos breves cumprimentos. Você perguntou se estava tudo bem, provavelmente eu não pude responder, mas acho que estava claro. Na mesma noite a cena se repetiu, até a madrugada dizer que logo seria manhã e você estava indo embora, dando a volta na rua vazia com seu carro cinza-comum.


Devo ter ficado em transe por alguns minutos, afinal, era inaceitável que fosse tão simples você ir embora e pronto, lá estava eu às duas tarde com a cara no travesseiro, sem me conformar que aquilo havia sido verdade, mas tinha acabado.


Solos de guitarra bombardeiam garotas tolas e jovens, arrancam seus corações e tornam-se fixação, loucura e um sofrimento muitíssimo agradável.Recomendo.

Posted by Menina Radiguet Drubi | às 10/28/2010 05:45:00 PM | 2 comentários

Ameixa, outra vez


Eu não sei bem como começar a desenrolar este pergaminho esquecido e desarrumado, que vem pesando, há algum tempo, logo depois daquele dia que eu disse coisas que não deveria, porque eu não tinha certeza, mas elas agora, estão certas, para mim. A lentidão de ter percebido isso agora, talvez me leve ao nada, e a solidão vai me pegar de surpresa na outra esquina, e mais uma entre muitas vezes, voltarei a ter raiva do amor, já que você não quer mais me ter, como amor.

Acho que eu poderia até jurar que meu coraçãozinho de margarida branca, nunca foi de outra pessoa, mesmo que o tenha mencionado, quando pensava em um outro alguém com segundas intenções, mas você deve ter sido sempre a minha primeira intenção, mesmo que de uma forma acanhada nos meus pensamentos. Você deve ter sido a minha primeira. A primeira das frutas, que por um sem-motivo-qualquer resolveu me chamar de fruta, enquanto a fruta na verdade, era você. Um rosto rosado e tímido, de ameixa rosada, e tímida.
É inaceitável, que quase no fim do que eu era para você, eu ver que você não virou nada, sempre foi desse seu jeito, para mim. Contudo, o que eu mais andarei sonhando, é que surja um pontinho daquela ameixa, me aceitando de volta. Pode ser assim ? Pode ser que você ainda sonhe com os olhos castanhos invadindo sua janela, quando você pensa ter esquecido deles, para sempre ?
Era bom ouvir você dizendo que queria ficar, ver você rabiscando suas fantasias, jovens demais para a sua idade.


Não sei explicar o conforto, mas é como se um abraço seu, fosse cama quente e macia, numa tarde fria depois da praia.
A melhor coisa do mundo, é não ter medo de escancarar o amor na sua cara. Ele é
todo meu. mas eu te dou, se você quiser.

Posted by Menina Radiguet Drubi | às 10/02/2010 10:19:00 PM | 0 comentários