Magenta
Ela me olhava pelos cantos, e a minha vontade era de abraçá-la como nunca antes, como nunca mais. Só porque ela era uma menina, nossos beijos tinham que ser silenciosos, escondidos, embaixo do mundo, sem ver as estrelas que sorriam por um minuto de ar fresco, o beijo mais raro do mundo na frente de todo o céu. Tínhamos mesmo que fingir que éramos apenas boa amigas. Ela tinha uma cara de sono e me mandou um sorriso como quem quer dizer "esqueça isso agora, vamos passar essa tarde, antes que ela passe por cima de nós". Mas eu sabia que ela não queria dizer nada. Estava apenas entediada pela minha falta de beijos, excesso de magenta e de conversas enroladas, fingíamos qualquer assunto, enquanto queríamos rir de uma coincidência, à toa, que minutos depois acharíamos tão sem-graça que riríamos por horas, e eu daria só outro beijo em silêncio, e sem razão para ela ver que eu estava ali de verdade, e ela ia sorrir para mim. Ela, sempre ela, nesse filme velho e batido, acho que ninguém agüenta mais. Só eu, e ela. Só eu, e ela. Eu, e ela. Eu, e ela. Ninguém mais agüenta.


1 comentários:
bonito texto! :)
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