Maria Amélia




Eu não queria falar de mim, mas nunca há outro jeito. Sou a única pessoa que eu conheço, até agora. Me engano então, presenteando-me com um codinome, assim não vai ficar tão óbvio para mim mesma que (não) sou eu - não sou eu. Maria Amélia sempre marca as sextas-feiras treze de cada ano, assim, se alguma coisa de ruim acontecesse teria no que colocar a culpa (dela). Não que acreditasse nisso, só preferia pensar que tinha um bom motivo para tudo dar errado. Maria Amélia chora de vontade, sorri porque tenta mostrá-la e depois fica séria... para não deixar que vejam o que ela anda mostrando: Maria Amélia se contradiz, é tola e se apaixona fácil. Não que eu não goste dela, não é isso. Mas é que às vezes me dá raiva desse jeitinho que ela leva a vida nas costas, sem segurar direito, "cuidado, pode cair". E é tão frágil a vida em que ela mora, que qualquer brisa pode derrubar tantas vezes uma mesma carta, que dá medo pensar no que a brisa faz com ela, misturada entre as copas, ouros, paus e espadas, que são até, mais fortes do que ela, que as escreveu. Ás vezes, eu até diria que essa menina não vive, porque inventa demais para as pessoas que eu conheço e costumam viver. Seu melhor amigo era o carteiro, a melhor amiga a caixa de correio, mas ela estava prestes a conhecer o caos, seu mais novo colega de quem sabe, todos os dias seguintes, se toda a sua construção de cartas caísse.


Acho que nunca fingiu ser outra pessoa, mas o tempo todo fingiu não ser ninguém, ou ficar por baixo dos lençóis do sol do azul, porque em cima, era tudo muito, muito claro. Tão ridiculamente claro, que chegava a ser compreensível, veja só!


Nunca entendi um pouco, nem dois, do que ela sonhava. Era muito para alguém sozinho. E ainda odiava ler pensamentos dos outros, que já tinham passado por sua cabeça antes. Sentia-se imitada, traída, o mundo não era tão justo, então.


Tudo que ela queria, para parar de responder que "não, não está tudo bem", era um amor impossível, mas só servia se fosse bem impossível e complicado mesmo, daqueles que dão preguiça, um gato e uma máquina de escrever os seus sonhos (novos) e dessa vez mais reais, quem (não) sabe.

Posted by Menina Radiguet Drubi | às 3/13/2011 01:01:00 AM

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