Sete anos, sete dias
O silêncio era quase como um sonho durante os sete dias em que ela esteve lá. As perguntas eram mais frequentes que o tanto de vezes que ela conseguia respirar entre as palavras. Bastava ouvir rastros da sua voz chegando pelas escadas, que certamente, a paz de todos dentro de casa, mais a do resto da vizinhança, e da vizinhança vizinha, saía pela porta dos fundos. Correndo.
Ela abria a porta como quem derruba a entrada do terreno inimigo, então ouvia-se um coro de suspiros daqueles que eram escravos de sua voz, tão aguda, irritante e autoritária. Sete anos. Sete anos haviam sido o suficiente para que aquele monstro, abominável, se tornasse tão abominável, para qualquer um, e nem um pouco para ele mesmo.
Morangos à mesa: dois terços, incluindo os maiores e mais vermelhos, iam sem muita cerimônia, se atirar como pedras na boca com menos dentes que a quantidade de morangos, aquela boca que ela fazia questão de manter aberta, ao mesmo tempo que entrava comida e saiam palavras.
Suas mãos, sempre mais sujas que os pés, com manchas das frutas vermelhas que ela tinha roubado do pacote que alguém acabara de trazer do mercado, unhas curtas, redondas, roídas, sujas e com restos de esmaltes toscos. Com as mesmas mãos, ela pegava nas outras pessoas, nos cabelos, no que comia, sempre deixando sua marca de pequeno animal selvagem, morrendo de fome e querendo sempre mais alguma coisa, de preferência a que está no prato ao lado. E ela conseguia. Com ou sem "sim", que ela sempre ousava arrancar dos outros com um "por favor", e uma cara de cínica e coitada que me dava nojo, nos seus monólogos onde ela perguntava, e, gentilmente, tomava a liberdade de responder o que lhe parecia melhor.
E como me dava nojo, no final do dia, ter que falar seu nome pela septuagésima vez, provavelmente por alguma das mil besteiras que ela conseguia fazer, de cinco em menos cinco minutos. Criança estúpida. Carregava os pratos e mais tudo que fosse frágil, como se estivesse dando o seu máximo para que tudo escorregasse e caísse no chão com muita vontade.
Seus cabelos, imensos, loiros, castanhos e claros, pareciam mais novelos de fios misturados, embaraçados, que formavam cinco ou seis pontas, num cabelo que supostamente seria liso. Entre tudo que odiei nela, estão os desenhos, que ela pensava serem os melhores, exceto pelos meninos, que ela dizia não desenhar tão bem. Para mim, os meninos, as meninas, árvores, peixes, EU, ela desenhava o pior imaginável. Terrível. E veja que foram só sete dias. Terríveis.

1 comentários:
Luana, Luana...quero tanto te conhecer! :)
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