La Lampe
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| http://www.flickr.com/photos/bastosh/495142735/sizes/m/in/photostream/ |
Incômodo claro, os dois sentiam que nem um nem outro estava disposto a qualquer gesto mais de cinco por cento humano, se é que era hora para medir isso. Não havia nenhuma razão para medir isso, só estavam simplesmente indispostos. Ouviu-se um "tac" do interruptor do abajur, só que para um deles foi um choque, para o outro não. O silêncio se rompeu, não por eles, mas por causa de um deles. Só se rompeu, e um segundo depois se emendou, com o outro silêncio, que esperava por uma reação qualquer. Pobre silêncio, não houve reação alguma.
A claridade tímida da lâmpada tomou conta de algumas superfícies, mas barulho nenhum aquilo fazia. Ela penetrava em alguns objetos, não alcançava todos os ângulos. Afinal, é assim que se fazem as sombras... Então aconteceu que um ficou iluminado, levemente. O outro na sombra, nada mudou muito: os dois corpos ocupavam o mesmo espaço e não se faziam companhia. Não ardiam. A lâmpada acesa empoeirada estava mais quente que tudo ali. Mais quente que aqueles dois seres de pele, ossos e órgãos mornos, que se estranhavam. Um cômodo, e tudo que havia nele, nunca disse tanto mais do que duas pessoas, como naquele instante. A dor deles de não conhecer nada em si mesmos, nem um no outro era perturbadora. Perturbador como um filme um filme francês mudo -e não por falta de tecnologia- onde o personagem principal seria: a Lâmpada. Perturbador. Perturba-dor.


3 comentários:
Minha parte preferida: A lâmpada acesa empoeirada estava mais quente que tudo ali.
Texto interessante... Mas, sem dúvidas, sua melhor fase criativa foi quando esteve com Bruno Avena...
As pessoas às vezes têm almas gélidas... (Tão)
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