Bombas
Devo no mínimo dizer que estas coisas estavam atrasadas e impacientes para serem escritas. Quando se conta, às vezes parece patético, as pessoas riem, mas de perto é um pouco mais barulhento, digamos assim. Não quero ter certeza nem lembrar da data exatamente, mas acho que já faz um ano que ouvi pela primeira vez os gritos mais gentis de uma guitarra, acompanhados por letras duvidosas e alguns olhares melodiosos.
Até hoje é difícil evitar pensar em outras coisas, olhar para outro lado, o máximo é sempre tocar o copo molhado com os dedos, ou fingir beber a coca.
Os encontros costumavam ser mais constantes, era o tempo suficiente para eu não conseguir esquecer de nada.Nada.
E aos poucos aqueles ruídos foram se afastando cada vez mais, até eu ver a imagem muda, só suas caras, e seus dedos longos. Mas eu varria os rostos e os sons, e comecei até a ver coisas, então eu caí.Caí depois de ver mil cópias de uma mesma canção doce, até tentei tocá-la, mas ela sangrou dentro de mim, até o mundo desaparecer, sair voando, enquanto eu procurava pelo mundo, porque eu tinha esquecido que você está lá dentro, e não aqui.
Então eu levantei, e tinha vinte e um anos, já era alguma coisa, apesar de ser apenas uma noite antes da vidinha que voltaria em breve...
Eu não estava me importando muito, na realidade. Ainda era meia noite, e você estava brindando ao uísque, comigo e mais tantas pessoas, mas eu sorri e olhei para o palco, e manchei o copo com batom vermelho. Depois de algumas músicas, algumas doses, e devaneios, depois de tanto tempo olhando fixamente para um mesmo ponto, eu caí. De novo. Mas o chão não estava lá, pensei seriamente na hipótese de ser só um sonho que eu iria esquecer depois, mas eram dois braços, e eu pude sentir pela primeira vez, os dedos longos que antes só apareciam junto às cordas vibrantes. Sua voz estava mais alta que o resto, e mais alta do que as outras vezes que eu já ouvira, nos microfones e nos breves cumprimentos. Você perguntou se estava tudo bem, provavelmente eu não pude responder, mas acho que estava claro. Na mesma noite a cena se repetiu, até a madrugada dizer que logo seria manhã e você estava indo embora, dando a volta na rua vazia com seu carro cinza-comum.
Devo ter ficado em transe por alguns minutos, afinal, era inaceitável que fosse tão simples você ir embora e pronto, lá estava eu às duas tarde com a cara no travesseiro, sem me conformar que aquilo havia sido verdade, mas tinha acabado.
Solos de guitarra bombardeiam garotas tolas e jovens, arrancam seus corações e tornam-se fixação, loucura e um sofrimento muitíssimo agradável.Recomendo.

2 comentários:
Bem vinda de volta Luana! É sempre bom acordar de manhã e ler bombas descritas por você com essa qualidade. Espero continuar encontrando aqui postagens suas desse porte!!
O problema nas quedas são as dores, mas as dores valem a pena serem sentidas...
"Falling's not the problem, when i'm falling i'm at peace, it's only when i hit the ground it causes all the grief."
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