Itália
Chegaram a uma conclusão: sou complexa. Metade das pessoas diz que isso é bom, muitas outras não dizem nada. Não entendem nada. Acho que nem você me entende, muitas vezes. Acho que as palavras esqueceram de como sair da minha boca pra te mostrar que eu te vejo, criança, tão pequena, e te cerco com meus braços e você não pode fazer nada, às vezes isso me faz mal, quando vejo nem sempre lhe faz bem. Eu faria de tudo para pôr um juízo nessa sua cabeça, cresça, cresça, mas caiba dentro de mim.
Passei a noite sonhando comigo: sem graça, des-graça, palavras e palavras, sempre as mesmas, parecia que eu as lia, mas não podia escrever, nem esquecer, e repetia pra acordar e te dizer. Não disse.
Meu sonho hoje era que a Itália, a Espanha, e todos os outros lugares do mundo que você pudesse ir, fossem aqui, então você não poderia ir pra longe de mim, você não iria a lugar algum.
Tentei te ligar muitas vezes, e por um instante tive medo de esquecer sua voz, trocada pela secretária eletrônica, que parecia estar tramando absurdos para que eu não pudesse te encontrar. Foi apenas um momento de exagero.
Você continua aqui, consegui falar com você, você atendeu. Pronto, nada mais pode dar errado. A ligação não foi tão curta, foi suficiente, desligo. Sinto saudades, algo tão repentino e inquietante, e ligo de novo, não foi tanto tempo assim, preciso falar com você (mais e mais). Nunca sei o quê, mas sempre falta alguma coisa, como um colar sem fechar, que pode cair a qualquer momento, enquanto corremos em volta de nós mesmas, arrumando um jeito, uma idéia, de conseguir agarrar, uma a outra, pela última vez, sem chances de saída, de fugir ainda que sem vontade de ir embora.
O que falta na verdade, é um pouco mais de mim, e só um pouco mais de você, algum lugar, sem telefones, sem colares, sem nada, sem Espanha, sem Itália.

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