Dor(me)-de-cabeça-vazia...

Minhas ideias estão doendo. Três horas para ler e pensar é muito, não preciso do dobro, nem da metade. E para quê tenho o triplo e meio a mais do que preciso, eu não sei. Por isso que estas tantas horas de tortura, deixo passar sem atenção, prefiro ficar não pensando, em outras cem coisas que estão querendo passear pela cabeça, sem fazer barulho, e sem dar trabalho, e isto ainda não me faz tão preguiçosa.
   Medito sobre tudo que é desimportante para os grandes pensantes, que me beliscam, até o último pedacinho de mente que restava sem os germes das palavras difíceis. Os germes que cheiram a tudo que eu não quero saber, mesmo se for muito necessário.
   Eu vou ranger meus dentes, bem forte, bem alto, até doer. Eu vou passar duas horas pensando na quantidade de perdas-de-tempo que eu preciso infincar na minha cabeça. E se eu tiver tanta coragem quanto raiva, vou martelar cada palavra, furar minhas ideias puras, contaminá-las, serei um indivíduo de outras ideias, velhas, afogadas e sujas de limo, ideias de desconhecidos, que me torturam.
   Me desespero tanto! Penhasco, onde se esconde? Onde, onde? 
Dizem que no triângulo das bermudas tudo parece mais tranquilo: some chão, some eu, mundo some, some tu-do. Sinto muito, muito, ter que comer a cabeça do mundo e cuspir o que eu não gosto de saber. Eu não gosto. 
   Não... Queria rir, mas hoje não vai ser, perdi muito tempo reclamando, que queria parar de reclamar, e no fim, não ri. Já passou da meia-noite, e se eu quiser rir, não pode mais ser hoje, que acabou de virar ontem, assim: "há duas horas foi ontem". Tão fácil, tão rapidinho. Se por acaso me convir dar uma risada, terá de ser no hoje-hoje, o segundo.
   Hoje, que vai ser amanhã depois que eu acordar, da curta noite de duas horas de sono, a chuva vai fazer músicas dissonantes estranhas, enquanto eu estiver pensando no que dizer, depois que abraçar a minha menina. Ou pelo menos eu espero que a chuva cante, e que eu veja a menina.
   Ela vai segurar a chave pendurada no meu pescoço, como se fosse dela, vai abrir meu cérebro como se fosse um coração metafórico, e vai abraçar meus pensamentos doentes e cansados, como se eles fossem eu mesma. Eu não acho nada disso completamente fora do normal. Só vejo poesia demais, para a minha pouca menina. E menina demais, para as minhas poucas ideias: umas assim, e as utras viradas ao contrário. As ideias de medo do mundo, e as de amor peculiar, acompanhado por chuva. 
Menina: destranque, abra, carregue e cure. Eu estou doente de ideias hoje, depois que acordei do sono pouco e duro. Os dias andam tristes. Torne mais fácil, feche meus olhos, tranque as portas de mim. Me faça dormir mais.

Posted by Menina Radiguet Drubi | às 8/13/2011 02:30:00 AM

4 comentários:

Danillo Holzmann disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Danillo Holzmann disse...

Qual a chave que destranca a vida ou o sentido dela? A dor de existir - porque existir dói...e muito - dói mais em gente que tem sensibilidade e coragem de se dar conta...se dar conta...mesmo não dando conta de tantas outras coisas. Derramar sangue por um terra que não é sua... não reconhecer-se no seu próprio esforço, perder tempo... nomeclaturas diferentes para um dos maiores medos contemporâneos (os mesmos medos de mil anos atrás): não ser quem se é! Tudo gira em torno disso...suportamos os maiores sofrimentos se sabemos quem somos.Que todas as meninas roubem e percam nossas chaves...deixando o coração eternamente destrancado, assim as coisas podem entrar e sair com a facilidade de quem vive...respira sem se dar conta...acaba SENDO sem se dar conta... nos damos conta da dor de existir, pra poder existir sem se dar conta...coisa doida é ser gente né?
Querida...textos sempre profundos e reflexivos...uma provocação apetitosa para o leitor que leva à sério ser gente. Ficará presente nos meus favoritos...e estarei sempre atento a qualquer atualização. Bju grande.

Menina Radiguet Drubi disse...

Seus comentários sempre interessantes e bem-vindos, Danillo!! Obrigada mais uma vez, vou tentar tirar de dentro desta confusão interminável, mais palavras minhas, em contradição à raiva que sinto delas, tantas e tantas vezes... Afinal, sou mesmo uma grande hipócrita: cansada de palavras, ao mesmo tempo que as faço brotar aos montes... Em breve nem mais as minhas vou querer ler... Beijos

Danillo Holzmann disse...

Talvez hipócrita seja muito pesado...mas existe sim uma inadequação em todos nós...somos feitos de paradoxo mesmo...queremos coisas, não queremos, queremos de novo...queremos não querendo...coração humano é terra que ninguém passeia (dizia minha avó)às vezes nem o próprio dono. Mas talvez,a luta seja essa, o paradoxo humano de conquistar o mundo as pessoas, a fama, o sucesso, o dinheiro, a mulher amada, amigos...a lua... e ainda não ser corajoso o suficiente pra conquistar o espelho...aquele pedacinho de vidro que temos no banheiro da nossa casa, que mostra de nós aquilo que não podemos ver a olho nu (precisamos de um reflexo pra ver).
De repente, tudo sobre nós seja apenas isso: feito de coisas que a gente vê e de coisas que não vemos, feito de coisas que queremos e que não queremos...feitos de sim e não, feitos de um eterno "talvez"...talvez sejamos "um talvez na existência"...um "sempre possibilidades" e "devir"!! Bjus flor, escreva muito...a catarse é importante. Acompanho daqui sempre com olhar curioso, instigado, provocado, mobilizado...

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