Trigo
Pareciam duas crianças, tão cuidadosas e tão sutis, deitadas no algodão tranquilo sem suas camisetas. Ele sorria e lhe fazia tranças no cabelo cor do assoalho loiro escuro, que escorregavam nas suas costas lisas e brancas, e ela se arrepiava sem querer, e sem se importar. Estava frio, quando estavam na sombra, era o suficiente para cada toque macio nas suas orelhas parecerem vento sobre um campo de trigo. Às vezes rolavam na cama, tentavam aproveitar o fino feixe de sol que aquecia suas bochechas, sem fazer calor. Seus olhos tinham cor de madeira e azeite de oliva, mas poderiam dizer que eram quase pretos quando não estavam na luz.
Ele tinha os dedos dos pés longos, e quando passeavam nas pernas dela eram como pincéis secos numa tela em branco, faziam "shhhhh...". Ela tocava delicadamente o canto da sua boca com dois dedos, leves, quase não se sentia que ela estava realmente o tocando. Encostava o nariz embaixo do olho direito dele, olhando suas pálpebras sem rugas, como uma bolha de sabão.
Ela tinha colinas no encontro da cintura com as pernas, ele as mapeava, gentil e em silêncio.
Do lado de fora, três e cinquenta, perto da praia e do asfalto, fazia quarenta graus, e havia sensação de pedras, poeira, chão quente e estrada. Como podia fazer tempo bom na cama?
Enquanto isso, pensavam em qual seria o próximo gesto, o próximo sopro. Ela pensou em beijar o seu umbigo, ele também, e então, dizer que seria bom dormir, pois era o melhor a fazer numa hora tão vazia. De repente sorriram devagar, misturando os olhos marrons com oliva, e os cílios cederam.
Quebraram o momento, adormeceram. Saíram dali, para sonhar com um beijo cru.


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