Corda estúpida

Se eu estivesse aí dentro, seria melhor que você, pensaria em flores, e como elas chegariam até as minhas mãos, nem que fosse direto das suas, fora de um sonho qualquer. Eu escreveria cartas quase todos os finais de semana dizendo que estava com imensas saudades, até amanhã. Sim eu iria todos os dias dar pelo menos um sorriso, um sinal de existência, apesar de todo o mal-humor, toda a preguiça. Eu cuidaria até o sufoco, até a loucura, eu provaria por mais equivocadamente que fosse, que eu preciso de pouca coisa para continuar vivo, mas só um golinho de você basta para que eu continue, por pelo menos um dia. Eu traria o cansaço de ver sempre o mesmo rosto.
Mas eu não faria isso comigo. Eu não me confundiria, não me faria olhar rápido para as palavras erradas. Eu não arrancaria pétala por pétala do meu coraçãozinho de margarida branca.
Já que me perguntam o que eu penso disso agora, eu não consigo evitar de dizer que não acho nada, prefiro que você simplesmente desapareça como lentes de contato em chão de feira. Não entendo disso direito, mas às vezes vem a raiva repentina, e então eu sinto falta duma coisa tão leviana, que eu já deveria ter esquecido, antes da hora. Não vale a pena isso tudo, não é ?
Estou meio sem equilíbrio, agora que perdi o ponto fixo, para o qual eu tinha o raro conforto de olhar, quando alguém estalava os dedos para eu acordar e ver alguma coisa dentro de você, que pudesse ser boa para mim, depois de algumas conversas.
E agora, me sinto de novo, um nada para ninguém. Os desconhecidos não me interessam, e os conhecidos nunca aparecem para dar bom dia na hora certa. Eu sempre estou longe, muito longe de tudo.
Nessa corda-bamba, parece mais fácil fazer saltos mortais e me atirar do que simplesmente procurar mais equilíbrio numa situação tão estúpida e vulnerável.
Pensar que um dia depois, eu esqueceria tudo, e conheceria um alguém com asas, que me levaria junto, para o resto do mundo. Se eu soubesse não teria pulado. Que culpa teve o precipício ? Se a precipitada era eu? Andei até lá, olhei, lá em baixo, e fui ver mais de perto. Adeus, céu, te vejo mais tarde, se é que não fui uma menina tão má.

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