De abandono
Diálogos gritantes entre vizinhos. À esta gente não tão próxima, digo com um meio orgulho à curiosidade alheia que você agora me deixa, e não vai mais voltar.
-Ela vai pra Itália!!!
-De passeio?!?!
-Não, de abandono...!!!!
Eu prometi não dizer mais para onde você iria, "Vai embora e basta!", quero este nome distante, mais do que você vai estar de mim.
Quando liguei, não era sua voz: uma tentativa frustrada de me fazer acreditar que você recusava minha preocupação.
E você não cansa de colher minhas lágrimas, ou eu que não canso de alimentá-las, elas não param de crescer, pintaram em mim um pequeno sorriso para manter o controle, fingir que tudo vai, bem, mas não tanto. O que foi? Nada.
Você correndo atrás dos pombos formando uma nuvem com centenas deles, enquanto eu estragava sua brincadeira, insultando-os, vermes, ratos alados...e rindo, pelos cantos mais obscuros do meu riso mais mastigante. Sei que você poderia comê-lo. A imagem poderia até me encantar, você corria no sol, eu queria te abraçar, mas fazia perguntas frias, por puro medo. Medo de que aqueles beijos fossem os últimos.
























